29 janeiro 2015

Vivendo no dilema entre dois deuses




Recebo diariamente pessoas em meu consultório tentando resolver uma crise típica da cidade grande. Tempo e Dinheiro. Todos querem mais tempo e mais dinheiro. Quando percebem que a cidade lhes roubam o tempo e o dinheiro, buscam o meu serviço psicanalítico para tentar resolver o problema. A minha resposta seria simples. “Peça demissão e vá cuidar de sua vida.” Mas logo percebo que cairiam em um problema que se constituiria máster. Dinheiro! Teria tempo, mas o tempo lhe cobraria dinheiro. Sem saída! Para pagar os custos da vida moderna precisa-se de dinheiro e sem ele não se vive. Logo, estamos de novo no dilema. O tempo se torna o meu algoz e me leva novamente para suas teias.
A questão está no entendimento de que somos governados pelo deus Chronos e Mamon. O chronos faz parte da história grega e o mamon da história judaica. Um é senhor do tempo cronológico simbolizado pelo relógio que ostentamos no pulso, imposto por mamon, na parede de casa, igreja e demais lugares, e o outro, mamon, carregamos no bolso e o guardamos no banco. Uso o chronos para vigiar mamon e manipulo mamon para controlar o chronos. Eles juntos, em parceria, torna a nossa vida um inferno, mas o inferno mais cruel é quando se separam. Se eu mandar o tempo embora, perco dinheiro e se eu mandar o dinheiro pro “espaço” fico sem o que fazer com o tempo. Veja os mendigos, por exemplo! Não deram a mínima pro mamon e vivem sem a menor idéia do chronos. Não são governados por nenhum deles, mas não possuem vida! Dilema né? Pois é, esse dilema fica maior quando você percebe que suas palavras diante de Deus são mentirosas. Você professa sua fé em Deus, diz que Ele é o Senhor da sua vida, mas no dia a dia quem manda mesmo é chronos e mamon. Você corre pra todo lado, é governado pelo tempo, cronometra sua conversa, olha no relógio a cada minuto, até o culto tem tempo, sem dinheiro você não constrói “igreja”, se é pastor come a unha a cada culto esperando que o gazofilácio esteja cheio. Enfim, toda a vida é professada verbalmente ao Senhor Jesus, mas de fato quem manda mesmo são os dois outros. FERROU!

Quando eu explico isso direitinho no consultório, me perguntam: - E ai doutor, o que fazer? Respondo: - De verdade não sei, mas inclusive queria lhe dizer que seu tempo acabou e a consulta custa “tanto”.