20 julho 2015

Não somos puros!

Afirmação cruel, talvez, mas verdadeira. Vou tentar explicar o que me faz escrever isto.
Quando você está numa discussão com alguém, percebe que há nela e em você um padrão já estabelecido de pensamento.
Verdade é como um caminho de trem ou para ser mais humano, meus pés. Eles são dois e diferentes. Esquerdo e direito e ambos não são exatamente iguais, mas medidas diferenciadas e juntos me levam aonde quero e preciso. Também duas verdades amigas, o que quero e o que preciso.
As pessoas não são puras, e tal pureza não é moral, mas intelectual. Quando uma criança aprende ela demonstra em seu olhar se está gostando ou não do que vê. Já com um adulto a coisa fica mais severa porque ele pode dialogar e seu poder de conversar sempre está pautado em suas crenças morais e intelectuais.
Verdade é o que faz sentido! Mas nem sempre o que faz sentido é uma verdade!
A complexidade da vida nos confunde e nessa confusão a briga surge entre nós.
O difícil é entender o que o outro pensa sem ter que discordar ou concordar. Ouvir é mais complicado do que convencer.
Se não fosse verdade, só haveria um partido politico, uma religião, um governo, um só caminho e tudo uma coisa só. Obviamente que não é saudável, pois a polaridade é tão real como necessária. Que graça teria se fosse tudo uma coisa só?
Por que estou dizendo isso?
Como psicanalista e pastor, nas horas vagas é claro, porque em todo tempo sou gente, percebo que não somos puros. Se fossemos, ainda assim haveria pessoas que nos colocariam no quadro dos ingênuos, ou, bobos. Ambiguidade e paradoxismo são inapropriados declarar, mas contudo é inerente. O politicamente aceitável e correto é a defesa de posições com convicção. “Eu sei que nada sei” é um erro, mas uma verdade. (rs)
Quando Jesus disse que Ele é o caminho, a verdade e a vida, alguns entendem como caminho sinuoso, reto, alto e baixo, verdade paradoxal, e vida liberal, estreita ou folgada e apertada. Cada um entende como quer entender!
Freud disse que somos produtos do meio, já Jung disse que não, crescemos em cima de uma base pessoal.
Os dois tem razão!
Se fôssemos mais curiosos e menos interessados em manter nossa força, não brigaríamos tanto. Há sempre o que aprender com o outro sem destruir o que há em nós.
Ouvir não significa concordar, mas aceitar o outro e suas opiniões.
Mas ainda assim haverá quem diga: - Não posso ficar quieto se o outro estiver errado, tenho de demovê-lo de tal ideia!
Não devemos nos esquecer de que a história já nos provou que no passado quem assegurava estar certo, hoje se prova que estava errado. Um exemplo?
Galileu Galilei teve que pedir desculpas por acreditar que a terra é quem gira ao redor do sol, e não o contrário. Hoje o Vaticano reconhece que não é o sol que se move, mas a terra. Sabedoria teve o Galileu em negar, pois assim viveu mais alguns anos!
Toda assertiva é muitas vezes excludente!
É obvio que não posso concordar com tudo, e nem estou falando de concordar, principalmente em questões morais ou imorais. Não posso aceitar um psicopata em minha seara por respeitar seu gosto por matar pessoas. Não confunda alho com bugalho, mas posso, por exemplo, aceitar em minha igreja, família ou amizade quem pense como Freud, ou como Jung, ou com Calvino, ou com Armínio, ou com Jayme Kemp, ou até mesmo como Richard Dawkins.
Não pode? Bem, isso pode ser uma inflexibilidade do ego de cada um, e em muitos o ego é tão rígido que não aceita nem uma e nem outra posição, somente a sua!
Em determinado contexto vejo uma verdade em Freud, em outro contexto vejo uma verdade também em Jung. Calvino tem suas razões olhando por uma ótica, mas Armínio também tem as suas por outra ótica.
Quando conseguimos entender o inconsciente de cada um, percebemos o porque dele pensar como pensa. Há defesas no ego para formular o conceito defendido!
Tentando resumir! Somos regidos por nossas vontades subjetivas que tendem a nortear nossa vida à fuga do sofrimento ou ao desejo dele.

Não somos puros, somos contaminados por nós mesmos!

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