05 maio 2009

Pastoreio na berlinda

O mundo passa por transformações constantes e absolutas e o ministério pastoral também!
Não é a mesma coisa, pastoreio e liderança. Pastorear significa acompanhar com dedicação e zelo, respeitando a velocidade de cada um e seu contexto histórico. Tendo o amor e compaixão necessária para servir de suporte a ovelha, tendo em vista seu crescimento em Cristo. É andar nos passos dos pequeninos e não trazer os pequeninos em nossos passos.
Liderança é promover a direção num sentido visionário do líder, levando os liderados a uma resposta eficaz dentro de uma proposta sugerida. Quando o liderado não satisfaz a visão do líder e nem ao plano apresentado, pode o liderado ser cortado do grupo por desqualificações. É levar o liderado a viver o plano proposto. Não serviu, está fora!
Os dois ministérios são importantes, mas na condução da igreja o que surge nas escrituras é o pastoreio. Liderança é uma palavra moderna que não retrata o pensamento do Novo Testamento e nem o “espírito” do apostolado.
Perceba que os pastores de hoje, embriagados pela visão de liderança, trocam palavras que fazem sentido ao mundo corporativo e não ao pastorado. Gabinete pastoral agora é escritório e nele há uma secretária que muitas vezes serve de tentação para o pastor!
Livros com base bíblica estão sendo lidos pelos executivos e livros de administração estão sendo lidos pelos pastores. O exemplo disso é o “Monge e o Executivo”, livro de muito sucesso na esfera corporativa, mas desenvolvido por um crente. E livros com título de sucesso estão sendo lidos por crentes e escritos pelos pastores.
De tempos em tempos procuro algum texto desenvolvido exclusivamente para pastores, com o fim de salvar a minha alma e meu chamado. Recentemente encontrei David Hansen pela editora Sheed com o titulo: “A arte de pastorear.” Sem o mérito da discussão, pastorear é uma arte mesmo! Um sacerdócio sacrificial! Por quê? Porque neste ofício é necessário que o pastor seja desprovido de ego. David Hansen escreve assustadoramente que o ministério pastoral é uma parábola de Jesus. Neste sentido, o autor chega à conclusão de que o pastor está pronto quando se encontra sozinho como Jesus na cruz ao dizer: “Pai, porque me abandonaste?”
Esta solidão que Hansen se refere é o sentimento de ter sido esquecido por Deus no exercício do ministério. Sentimento este por perceber que os sonhos não estão sendo realizados e por ser abandonado muitas vezes por aqueles que o cercam.
Esse é o maior medo do pastor! Ser abandonado! Por isso que muitos são egóicos, centralizadores e vaidosos. É muito comum encontrar pastores que quando suas ordens não são atendidas mostram as garras. Usam o púlpito para enviar mensagens direcionadas.
Quantas vezes nos sentimos abandonados? Largados no meio do caminho por pessoas que o fim delas era apenas seus objetivos e oportunidades? Pessoas que não viam você, mas sua bolsa! Não via você, mas seus contatos e oportunidades! Mas esse é o ônus do pastorado! Jesus mesmo nos disse que nos enviaria ao meio de lobos! Lobos ferem, arranham e devoram! Somos conduzidos ao matadouro todos os dias. Como lideres não podemos aceitar, mas como pastores não temos escolha.
Nesta direção da concepção de David Hansen, encontro também não só a solidão da cruz, mas a perversidade de Judas. Quantos Judas encontramos pelo caminho? Quantos “Pedros” confrontamos e ouvimos deles que estão conosco até o fim e depois somem? Negam e repudiam quando são descobertos! É comum chorarmos e caminharmos com pessoas que o fim será a traição! Eu mesmo amei e ajudei completamente pessoas que me deram as costas sem motivo algum aparente. “Roubaram” meu tempo para depois desprezarem. Literalmente você é exposto a situações e condições que no futuro poderá ter servido para nada. Você aconselha, gasta tempo, confronta e no fim, recebe uma traição, uma afronta e até mesmo depois de pronto, curado, sarado, ele vai servir em outra igreja. E faz lá, tudo que se negou a fazer aqui!
Quando exercemos o pastoreio temos de sofrer esses percalços como missão cristocêntrica e sentir os cravos, mas quando exercemos a liderança temos de cortar, excluir e trocar. Substituir faz parte do líder, mas insistir e amar é tarefa do pastor. Por isso que Jesus não trocou Pedro. O chamou de volta!
Liderança é competência, pastorado é chamado e vocação! Líderes não são chamados, mas treinados. Pastores são agraciados! Pastor sem o dom do amor é prejudicial a si mesmo!
É comum encontrarmos pastores frustrados, doentes por conta de estarem na função de pastorear, mas tentarem exercer a liderança. É o mesmo que tentar por sal no café! Vai dar errado! David Hansen mesmo alerta para a tentação de ouvir a confissão ou lamúria de uma ovelha e no fim dizermos alguma coisa como líder. O que seria: “Bem meu irmão, o problema é que você deveria...” E enchemos o outro com regrinhas que o líder tem em seu manual. Mas pastorear é tão somente compaixão no sentido de amar, abraçar e interceder. Nós nem sabemos se o irmão queixoso já tentou de tudo e não deu certo! Quando somos pastores e exercemos a liderança construímos um monstro que assola e oprime.
A isso, Hansen atribui que, para ser pastor tem de haver uma total entrega á Deus para poder ser direcionado por Ele e não por regras ou táticas. Nosso livro de cabeceira é a Bíblia e não “A arte da guerra”, “O príncipe” ou “Segredos de Vitórias” e “Seja um vencedor”. Eles podem ser bons e inspiradores, mas com certeza vão desfocar do propósito de pastorear. É o mesmo que beber coca-cola todo dia em lugar de água, pode ser bom, mas o corpo uma hora vai fracassar.
Talvez seja por isso que temos mais em nossas igrejas homens que administram vidas do que pastores. É comum termos igrejas com programas e inúmeros treinamentos que mais se parecem uma empresa de recursos humanos do que humanos com recursos divinos.
Quando a igreja tenta ser uma empresa e uma empresa tenta ser uma igreja, o final disso será desastroso. Haja vista o número de empresas que estão hoje dando atenção à espiritualidade e as igrejas a projetos.
Eu quero muito que minha igreja cresça, mas se crescer na velocidade que gostaria, não serei mais pastor com tempo de ouvir, chorar e abraçar. Serei substituído por uma agenda, por um celular e por secretários que tentarão fazer por mim o que eu mesmo não estou conseguindo. Não preciso dizer que isso é um suicídio né?
Eu sei que temos gente chata, gente ingrata, gente doente, neurótica e possessiva, mas os sãos não precisam de médicos e os pastores devem ser médicos de almas, mas a grande crise é que os que deveriam ser curadores são os loucos por ainda estarem em crise de suas funções e chamado.
Mas também sei que em algum momento a liderança cruza o caminho do pastor!

2 comentários:

Sueli Car disse...

Pr. Jean,
De fato eu concordo que a desobediência é o maior problema da humanidade e seguramente quem leva as pessoas para o inferno.Não só aquele que idealizamos mas aqui mesmo nas nossas relações com as pessoas.Jesus poderia não ter se submetido e que perda para a humanidade se isto tivesse acontecido.

Adonias Soares disse...

Grande Jean, bela postagem.
De fato reconheço: Sou chato, ingrato, doente... neurótico acho que não. Mas dou graças a Deus pela sua vida, sei que deve ser muito dificil fazer o que você faz. Deus o abençoe sempre, que te de animo e força nos piores momentos. Essa é a minha oração.
Deus esteja contigo.