11 dezembro 2012




Contramão
Na década de 80 eu conheci a Cristo e participei de muitos congressos loucos. De Benny Hinn a Morris Cerullo! Lembro-me que junto do meu pastor numa ocasião estávamos no Riocentro no Rio de Janeiro e na plateia víamos o Benny Hinn soprar e balançar o paletó e nós em pé caíamos em onda juntamente com o público. Eu chorava e pedia a Deus aquele dom que na ocasião achava maravilhoso.
Em outra situação já em São Paulo, com um presbítero de minha comunidade, fomos ao encontro de Morris Cerullo. Um senhor bonzinho que fazendo um corredor para ungir os demais, eu por lá passei e senti um impacto tremendo que na ocasião entendia como unção. Fiquei meio grogue e fui para casa parecendo-me anestesiado. Cria que igreja não deveria ter qualquer vínculo institucional ou burocracia documental.
Absorvi a teologia de John Wimber, fundador do movimento Vineyard. Wimber pregava sobre evangelismo de poder e deu cursos na faculdade Fuller sobre sinais e prodígios. Eu buscava tudo isso e cheguei a ministrar estas coisas, pois cria que isso era a manifestação de Deus. Mas cria como uma necessidade quase que vital.
Igreja não deveria ter nomenclatura ou sequer hierarquia! Placa ou denominação é dos homens e é fútil. O que importa mesmo é o evangelho. Plantei uma comunidade que baseado em Jerusalém, livro de Atos, “tinham tudo em comum”, fomos nos reunindo acreditando que igreja é um local de amigos. De irmãos que trocam coisas e um ajuda o outro!
Minha crença estava indo bem até começar a entender outra coisa maior que a amizade. A missão! Deus não nos chamou para ficarmos enfurnados num local desfrutando de uma irmandade. Nossa tarefa é fazer discípulos e essa tarefa incomoda a irmandade. Assim, comecei a ver o “castelo de cartas” ruírem. Ciúmes, brigas e rixas eram frequentes! Um querendo o espaço do outro.
Ao me contatar com a teoria do Dr.Jung, psiquiatra suíço, estudando arquétipos, percebi que eles jamais podem ser quebrados. O que é um arquétipo? O complexo de Édipo, por exemplo, é um arquétipo. Estruturas psíquicas estabelecidas por tempos são arquétipos.
A sistemas estabelecidos que não podem ser quebrados!
Hierarquia jamais pode ser tocada! A humanidade não reconhece o que não está em cadeia hierárquica.
Outra coisa que comecei a perceber é que os fenômenos realizados pelos pregadores citados acima eram fenômenos psíquicos desejados pelos demais. Assim como reação em cadeia! Agressividade e histeria coletiva. Perceba por exemplo que as ditas línguas estranhas dos pentecostais são parecidas! Eles aprendem a falar e quando proferem há um desencadeamento histérico que propaga no ambiente trazendo aos participantes o efeito de que Deus está ali. Está porque ELE prometeu quando estivéssemos reunidos em Seu nome e não quando coisas fenomenais acontecessem ou porque aconteceram.
Hoje, tenho deveras desconfianças nestes fenômenos. Os vejo com certa crença não no evangelho, mas na psicanálise que me instruiu que isso também acontece em outras religiões. Há muitos curados e muitos com experiências fenomenológicas em outras religiões. É fácil dizer que é o diabo, mas para quem crê na soberania de Deus não consegue entender como há outra força no universo além do Altíssimo. Então me é mais fácil crer no poder da mente.
Assim também entendo hoje que as estruturas são importantes para a organização do ser humano. Não se consegue fazer uma igreja saudável sem ao menos ter uma estrutura mínima porque estamos lidando com pecadores e pecador reconhece muito bem as figuras de poder. Veja por exemplo quando uma igreja organiza uma assembleia e abre para todos falarem o que acontece! Brigas e críticas que chegam perto da falta de respeito.
Estou bem perto dos 50 (cinquenta anos) e indo na direção contraria de muitos que depois de iniciarem numa igreja ou denominação conservadora, migram para seus ministérios próprios e constroem impérios pessoais. Eu iniciei em ministério próprio e hoje estou indo para uma denominação conservadora, buscando ali refúgio dessa panaceia cristã que estamos assistindo. Sinto-me no efeito Benjamim Buton. Sem medo e completamente confortável encaro a igreja de hoje com certa desconfiança vendo nos mais antigos um lugar de descanso, sem exageros é claro, porque há muita gente boa neste sistema atual, que quando estiverem maduros buscarão nos conservadores um local ao sol.
Por isso que chamo este meu texto de contramão! 

Nenhum comentário: