“Já estou crucificado com Cristo; e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne,
vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”
Gálatas 2:20
Este verso retrata o que costumamos ouvir nas igrejas.
O cristão não tem gosto, cor, cheiro ou sequer vontades
pessoais.
Na prática é muito diferente claro. O discurso é a maior arma
do cristão.
Pastores aprendem rapidamente a justificar suas convicções e
suas vontades e quando não conseguem convencer “atiram” certeiramente com a
inusitada frase: “O Senhor me falou”! Para quem tem medo de Deus isso é o
bastante para segui-lo ou aceita-lo. Para mim uma covardia sem tamanho!
Antes de seguir a “carreira” de pastor, meu amigo e pastor
Aloisio Bacelar me disse: “Deus faz profetas, mas não desfaz o homem. ” Se a
frase é dele eu não sei, mas é boa demais e marcou minha vida.
Meus pais diziam que eu era rebelde, hoje aprendi que rebelde
é sempre aquele que questiona as coisas. De fato, creio ser mesmo rebelde. Não
sou aquele que não cumpre ordens mas tenho muita dificuldade de as cumprir sem
entender. Mas meu texto aqui não é discutir ordens mas refletir sobre a vida.
Jung, do qual me tornei especialista, diz que o EU não muda.
Ao compreende-lo você entende que o EU se adapta e em algum momento se submete,
mas as vontades estão lá.
A fé cristã acredita em mágica, o que erroneamente chamam de
conversão. Para o cristianismo a conversão é o momento em que uma pessoa ao se
encontrar com Cristo deixa de gostar ou põem as suas vontades de lado. Prefiro
esta última definição. Por exemplo: A pessoa gosta de bebida alcoólica, mas não
tem controle. Mesmo depois de convertido à vontade estará presente, mas por
saber que será descontrolado ao ingerir o líquido, prefere abster-se dele.
Agora, em Cristo, ele terá mais força para isso, pois o Espírito Santo o
capacita para tal. Mas também posso acrescentar ou ponderar que conversão é acima
de tudo deixar sua cosmovisão de mundo e vida para aceitar e acolher a de Deus
e sua Palavra.
Alguns insistem em dizer que a vontade desapareceu. Não
acredito, o que ocorreu foi uma sublimação. Um objeto menor deu lugar a um
maior.
“Porque para mim o
viver é Cristo, e o morrer é ganho. ” Filipenses 1:21
Bem, meu texto também não se presta a explicar cumprir ordens,
mas refletir sobre a vida esquecida. No caso, um pastor é cobrado por demais
para ser como a média. Por exemplo: Alguns se surpreendem quando um pastor não
veste paletó. E quando ele gosta de cerveja? E quando o pastor é motociclista?
E quando ele usa joias? E quando usa brinco? Deixa de ser pastor por isso?
Um senhor pastor ou pastor senhor me disse que “o hábito faz
o monge”. Ele se referia a roupa e não ao costume. Estudos mostram que de fato
a roupa afeta no processo cerebral da pessoa. No entanto, me visto bem para me
sentir bem e não para impressionar o outro.
João Batista foi considerado por Jesus como um grande
profeta, e ele não estava no conceito da maioria! Era completamente esquisito
para a sua época!
Jung chama certos comportamentos de arquétipos! O pastorado possui
os seus. A imagem fala muitas vezes mais que comportamentos. Um pastor pode ser
absolutamente ético, misericordioso, amoroso e hospitaleiro mas se não tiver
uma imagem nos padrões estabelecidos pela maioria seus comportamentos demorarão
a fazer efeito sobre o outro.
Todos são preconceituosos não adianta negar!
Lembro-me que na década de 80 Caio Fábio em seus congressos
usava algumas expressões de linguagem que qualquer mortal se usasse teria sido escorraçado.
Pois bem, quando ele se divorciou de sua esposa e casou de novo, muitos o “apedrejaram”
e se indignam do que diz. Sendo que ele diz a mesma coisa que antes, mas como
sua imagem foi destruída pelo “farisaísmo” ele tornou-se profano. Contudo, se
libertou da “ética” consensual para ser aquilo que sempre foi.
Jung denomina de individuação. A capacidade para ser aquilo
do qual sempre foi!
Paulo foi destemido, arrojado, louco, apaixonado pela missão,
polêmico e causador de confusão. Convertido, todos estes quesitos agora estão
em favor de Cristo. Sua mensagem farisaica dá lugar ao evangelho e seu capricho
pela lei é substituído pela Graça. Mas Paulo continuou sendo Paulo!
A verdade é que o pastor querendo ser aceito ele se submete
ao capricho alheio. Não tem coragem para ser ele mesmo! Acostumados com os
costumes de outrora não tem coragem para ousar ser diferente da maioria.
Talvez seja por isso que o índice de pastores deprimidos é
enorme!
Lamento ver seminaristas deixando os seminários como se
tivessem saído de uma linha de produção. Copiam até a forma de pregar!
Vestuário, linguagem e toda uma vida. Querem ser Spurgeon, Hernandes Dias
Lopes, e demais personalidades importantes, menos ser eles mesmos.
Quando certa feita os alunos de Jung disseram que eram
Junguianos ele replicou que este feito era seu, eles deveriam ser eles mesmos.
Lembro-me que certa feita cheguei na igreja com brinco, e os
uso até hoje, mas infelizmente não o posso usar em qualquer lugar, talvez quem
sabe por causa dos “débeis” na fé como diz Paulo. Não adianta explicar! Pastor
não pode! Porque não? O silencio se faz ecoar nesta hora. Os mais ignorantes os
associam ao homossexualismo, os mais conservadores os atribuem a cultura e os
demais nada sabem.
Certa feita num desses domingos quentes de verão, ousei ir ao
culto de bermuda social. Surpresa para uns, escândalo para outros e alegria de
poucos. Confesso que fiquei relutante ao sair de casa vestido assim, mas
insisti com meu EU que deveria ir, pois não estava nu e nem desrespeitoso. Nosso
culto ou ambiente não era solene e nem sacro. Isso foi uma vez só, pois não me
senti totalmente confortável para continuar, mas não critico quem assim o faz.
Fico “fulo da vida” quando ouço que fazemos o que fazemos
porque sempre foi assim. Não pensamos no tempo, na forma, na mensagem e nem
sequer na cultura ou na ocasião. A música na igreja tem de ser como as
aprendidas importadas da época Vitoriana. Já pensou em louvor no formato de
samba? E o ritmo africano?
A bem do meu questionamento aqui é só para pensarmos que um
pastor pode ter gostos diferenciados e que todos somos vaidosos quanto a imagem
e queremos nos portar como nosso EU se sentirá mais confortável. Não creio ser
isso um pecado!
Pecado é pastor descabelado, dente sujo, roupas sujas, unhas
de mecânico, pelos do nariz a mostra, linguagem chula e completamente “desgrenhado”
e ignorante a cultura e conhecimentos gerais.
Você pode pensar que estou me defendendo de algo. Talvez! Mas
também posso estar servindo de uma pequena voz aos que são martirizados pela
opinião alheia, postura que não me convidaram a ter.