14 abril 2008

Para não esquecer!

Essas igrejas que importam ministério de fora, nos fazem sentir que somos uma porcaria.
Digo isso porque quando recebo relatório delas, comprovo que tudo funciona redondo. Não é Skol, mas funciona assim. Nessas igrejas todo mundo trabalha, os ministérios andam, os orçamentos são folgados e as apresentações teatrais, ou melhor, o culto domingo, é extremamente empolgante. Não é profundo, mas é empolgante! Não toca o coração, mas toca os olhos. Entretêm bem! Distrai loucamente! Faz as pessoas sentirem que não perderam a viagem.
Para importar o ministério que funciona, é preciso comprar o kit. Livros, apostilas e parafernália administrativa. É preciso fazer do jeitinho que ensinam. A idéia que tenho é que eles pensam que as pessoas são idênticas das outras. Se programadas conforme o kit, tudo irá dar certo, porque as pessoas são em séries como a linha de montagem das indústrias. É a revolução industrial que chegou às igrejas.
Como havia dito no inicio, me sinto uma porcaria sendo pastor vendo esses deslumbrantes ministérios. Na minha igreja as pessoas entregam ministérios horas antes de eles entrarem em ação. Na minha igreja as pessoas freqüentam um domingo sim e outro não. Na minha igreja, quando os pecados são revelados elas mudam de igreja. Na minha igreja para uma programação dar certo é um parto. Um trabalhão! Um amigo meu, também pastor, me disse que na sua igreja as pessoas não trabalham, mas vivem reclamando que nada acontece. Como se igreja tivesse que acontecer alguma coisa. Uma coisa interessante que tenho percebido é que os que mais dão trabalho na igreja, não são dizimista. Curioso né?
Eu não acredito nestes ministérios que funcionam! Simplesmente pelo fato deles não funcionarem como a propaganda diz. Porque igreja não é lugar das coisas funcionarem. Acho que os líderes desses ministérios se esqueceram que igreja é lugar de pecador. A impressão que tenho é de que o Apóstolo Paulo perdeu em não ter nascido e desenvolvido ministério no século XXI para aprender com eles um jeito novo de fazer igreja. Se Paulo tivesse conhecido esses ministérios e líderes modernos, teria muito que aprender. Principalmente em não arrumar confusão com a sinagoga. Principalmente em não ser duro demais com as pessoas, afinal, elas precisam ficar na igreja.
Essas igrejas de propósito, rede ministerial e grupos de doze, são puro entretenimento. Não acredito numa vírgula nisso. Esse modelo gerencial de pessoas e não pastoral é bobagem olhando para o modelo do Novo Testamento. Pastor não é gerente minuto, nem vendedor de idéias criativas. A impressão que tenho é de que estamos envergonhados com o ministério modelo bíblico e por isso foi criado esse modelo empresarial de ser igreja. Um amigo me falou que numa dessas igrejas grandes da zona sul de São Paulo, os pastores tem de entregarem planejamento para até 2010. Alguns não agüentam mais viverem no ministério como se fossem empregados de uma multinacional. Que no fundo são! Salário é alto, mas a alma tá vendida.
Perceba que cada vez mais os empresários e executivos estão lendo livros sobre espiritualidade e os pastores lendo livros de administração. Alguma coisa errada está acontecendo. Executivos lêem “o Monge e o Executivo”, os pastores lêem “administrando o seu tempo”. “Modelo de administração de Jesus”. “Degraus de poder para o sucesso”. Uma infinidade de livros auto-ajuda para pastores e líderes evangélicos. A bíblia está para os empresários!
O que acontece é que quando uma pessoa não produz nada na igreja ela é prontamente descartada porque não serve. Pastores de sucesso só dão o seu tempo para quem produz. Ovelhinha complicada, machucada e infeliz, não terá ajuda pastoral. Cada vez mais esse modelo norte-americano que invadiu nossas igrejas modelando pastores almofadinhas com pinta de executivo, todo engomadinho, posando de riquinho, com caneta Montblanc no bolso, palm top no outro e celular de último tipo, tem ocupado nossos púlpitos sem profundidade e coração pastoral. É muita lorota, como diz um amigo carioca!
O futuro disso, são pessoas quebradas, infelizes e frustradas procurando um cantinho pequeno, comunitário, sem cobranças e sem agenda. Um lugar para se assentar sobre a relva. Lugar simples, modesto, amoroso e na contramão da produtividade e da festividade oca.
Não se esqueçam que a fé não é de todos e o ministério não é negócio!
Já dizia o atrasado Paulo do século passado, muito passado!

3 comentários:

Thiago Almeida disse...

Jeam...tenho orado pela igreja e percebo sintomas em "todas as igrejas" deste bicho larval. Estou lendo as cartas de Paulo e identifiquei com o texto de II Cor. 6
Na luta em prol do reino meu pastor.

Carlos Eduardo M.B. Valderrama disse...

Tenho as mesmas impressões, e partilho dos mesmos sentimentos contidos no artigo.
Pr. Carlos Eduardo M.B. Valderrama

Anônimo disse...

Trabalhei em grandes empresas do segmento imobliliário, os funcionários (quase todos autônomos) sofrem uma pressão quase que "lunar" e tentar através de inúmeros conceitos pscológicos imprimirem em sua mente que "tudo da resultado" basta se aplicar, ter fé , não desistir dos seus objetivos seja ele qual for ... qualquer semelhança com nossa "igreja atual" não é coincidência" ! Valmir