Na década de 80 eu conheci a Cristo e participei de muitos
congressos loucos. De Benny Hinn a Morris Cerullo! Lembro-me que junto do meu
pastor numa ocasião estávamos no Riocentro no Rio de Janeiro e na plateia víamos
o Benny Hinn soprar e balançar o paletó e nós em pé caíamos em onda juntamente
com o público. Eu chorava e pedia a Deus aquele dom que na ocasião achava
maravilhoso.
Em outra situação já em São Paulo, com um presbítero de minha
comunidade, fomos ao encontro de Morris Cerullo. Um senhor bonzinho que fazendo
um corredor para ungir os demais, eu por lá passei e senti um impacto tremendo
que na ocasião entendia como unção. Fiquei meio grogue e fui para casa
parecendo-me anestesiado. Cria que igreja não deveria ter qualquer vínculo
institucional ou burocracia documental.
Absorvi a teologia de John Wimber, fundador do movimento
Vineyard. Wimber pregava sobre evangelismo de poder e deu cursos na faculdade
Fuller sobre sinais e prodígios. Eu buscava tudo isso e cheguei a ministrar
estas coisas, pois cria que isso era a manifestação de Deus. Mas cria como uma
necessidade quase que vital.
Igreja não deveria ter nomenclatura ou sequer hierarquia!
Placa ou denominação é dos homens e é fútil. O que importa mesmo é o evangelho.
Plantei uma comunidade que baseado em Jerusalém, livro de Atos, “tinham tudo em comum”, fomos nos
reunindo acreditando que igreja é um local de amigos. De irmãos que trocam
coisas e um ajuda o outro!
Minha crença estava indo bem até começar a entender outra
coisa maior que a amizade. A missão! Deus não nos chamou para ficarmos enfurnados
num local desfrutando de uma irmandade. Nossa tarefa é fazer discípulos e essa
tarefa incomoda a irmandade. Assim, comecei a ver o “castelo de cartas” ruírem.
Ciúmes, brigas e rixas eram frequentes! Um querendo o espaço do outro.
Ao me contatar com a teoria do Dr.Jung, psiquiatra suíço,
estudando arquétipos, percebi que eles jamais podem ser quebrados. O que é um
arquétipo? O complexo de Édipo, por exemplo, é um arquétipo. Estruturas psíquicas
estabelecidas por tempos são arquétipos.
A sistemas estabelecidos que não podem ser quebrados!
Hierarquia jamais pode ser tocada! A humanidade não reconhece
o que não está em cadeia hierárquica.
Outra coisa que comecei a perceber é que os fenômenos
realizados pelos pregadores citados acima eram fenômenos psíquicos desejados
pelos demais. Assim como reação em cadeia! Agressividade e histeria coletiva.
Perceba por exemplo que as ditas línguas estranhas dos pentecostais são
parecidas! Eles aprendem a falar e quando proferem há um desencadeamento
histérico que propaga no ambiente trazendo aos participantes o efeito de que
Deus está ali. Está porque ELE prometeu quando estivéssemos reunidos em Seu
nome e não quando coisas fenomenais acontecessem ou porque aconteceram.
Hoje, tenho deveras desconfianças nestes fenômenos. Os vejo com
certa crença não no evangelho, mas na psicanálise que me instruiu que isso
também acontece em outras religiões. Há muitos curados e muitos com experiências
fenomenológicas em outras religiões. É fácil dizer que é o diabo, mas para quem
crê na soberania de Deus não consegue entender como há outra força no universo
além do Altíssimo. Então me é mais fácil crer no poder da mente.
Assim também entendo hoje que as estruturas são importantes
para a organização do ser humano. Não se consegue fazer uma igreja saudável sem
ao menos ter uma estrutura mínima porque estamos lidando com pecadores e
pecador reconhece muito bem as figuras de poder. Veja por exemplo quando uma
igreja organiza uma assembleia e abre para todos falarem o que acontece! Brigas
e críticas que chegam perto da falta de respeito.
Estou bem perto dos 50 (cinquenta anos) e indo na direção
contraria de muitos que depois de iniciarem numa igreja ou denominação
conservadora, migram para seus ministérios próprios e constroem impérios
pessoais. Eu iniciei em ministério próprio e hoje estou indo para uma
denominação conservadora, buscando ali refúgio dessa panaceia cristã que
estamos assistindo. Sinto-me no efeito Benjamim Buton. Sem medo e completamente
confortável encaro a igreja de hoje com certa desconfiança vendo nos mais
antigos um lugar de descanso, sem exageros é claro, porque há muita gente boa
neste sistema atual, que quando estiverem maduros buscarão nos conservadores um
local ao sol.
Por isso que chamo este meu texto de contramão!